sexta-feira, 27 de abril de 2012

Band of Brothers



Band of Brothers, conta a história da Companhia Easy, 506º Regimento da 101ª Divisão de pára-quedistas do exército norte-americano. A história começa em 1942, quando o exército norte-americano decide recrutar voluntários para uma arma que poderia decidir os rumos da guerra: uma divisão de soldados capazes de saltar atrás das linhas inimigas e combater a partir do interior da Europa. Influenciados por um artigo que havia sido capa da revista Time, durante quinze meses os soldados da Companhia Easy foram submetidos a um dos mais rigorosos treinamentos da história militar norte-americana.

São treze horas e vinte minutos (!) de vídeo, então o resumo abaixo é apenas a síntese da essência da série que é, dentro do tema, a melhor já elaborada até hoje. Vou ser bem sucinto e tentarei não entregar muitos spoilers. Cada episódio trata de focar em um determinado membro da Easy, o que significa que, ao final da série, você está familiarizado com todos eles e quer rever tudo desde o início, para prestar mais atenção à trajetória de cada um daqueles heróis. Desnecessário dizer que, com essa intimidade, cada baixa é sentida como se um membro da sua família estivesse partindo. Desnecessário também dizer que, a partir do terceiro ou quarto episódio, quando a maioria já é seu amigo íntimo, é difícil segurar as lágrimas com cada atitude de cada personagem.

Não bastasse essa proximidade causada por um casting perfeito (cheio de atores semidesconhecidos) e um roteiro sempre primoroso, cada episódio traz no prólogo depoimentos dos soldados sobreviventes nos dias atuais, senhores de idade cheios de cicatrizes e sabedoria. Eles não se apresentam: faz parte da graça da série tentar adivinhar quem é quem. Só no epílogo do último episódio é que eles se revelam, e aí não tem como não chorar.

Tudo começa em Currahee; são apresentados os principais personagens, mas o foco é definitivamente a relação da companhia com seu egocêntrico e arrogante capitão, Hebert Sobel. Após um treinamento cruel, intenso e extenuante, e sob a supervisão de um novo comandante, Thomas Meehan, a Easy Company finalmente embarca para a Inglaterra, se preparando então para seu lançamento sobre a Europa, em setembro de 1943. No dia D, a companhia desembarca na Normandia, inclusive no ataque de Brecourt Manour, sob a atenta ótica do Tenente Winters. 

Se você gostou, por exemplo, da cena inicial do filme o Resgate do Soldado Ryan, perceberá a magnitude, precisão e perfeição da filmagem da entrada do pelotão no continente europeu. O modo como a câmera se comporta e o realismo impecável da atuação dos personagens demonstra de maneira perfeita o fato e o ato histórico e de bravura a que foram submetidos na vida real. Mas, como enfrentar o medo da morte? Como Ronald Speirs diz “A única esperança é admitir que você já está morto.”





Logo após o dia D, há a invasão no interior da França, em Carentan. O objetivo dos pára-quedistas era liberar corredores de ligação para impedir um possível contra-ataque alemão às costas. O episódio é relatado sob a perspectiva do soldado Albert Blithe e seus medos durante a guerra – inclusive o de matar. Interessante frisarmos e notarmos que os próximos cinco capítulos são narrados sob o ponto de vista de cinco soldados e, entre eles, Dick Winters. Os diretores e também os roteiristas conseguiram com muito cuidado transformar o que poderia ser enfadonho, em uma verdadeira jornada heróica sob óticas totalmente autênticas e pessoais, causando um impacto no telespectador ao demonstrar o desenvolvimento da amizade única entre eles, bem como mesclar depoimentos dos veteranos, que são os trechos que de fato nos conectam com a realidade dos eventos expostos ali, muitas vezes acima das atuações.

E de fato o que me chamou a atenção foi a impressionante ligação que esses homens tiveram uns com os outros, e a magistral, perspicaz e perfeita liderança demonstrada a todo instante por Dick Winters. Cada ação é destrinchada e mostra a genialidade de Richard Winters, que acaba se tornando o protagonista involuntariamente, da mesma forma que vai ganhando patentes no decorrer da guerra. Winters é o maior líder já retratado em película e ponto final. Bastam uns dois episódios pra você, que nunca usou farda na vida, acreditar que, se Winters mandasse, pularia de um precipício sem problemas. Depois de voltar a Inglaterra, a Easy, que teve um dos maiores números de baixas de todas as companhias aliadas, combateu na malfadada operação tática Market Garden. A Easy ainda foi lançada aos Países Baixos, onde após uma operação quase perfeita, acaba por ter um novo comandante. No entanto, os soldados se mantém unidos e são sempre guiados sob a batuta cuidadosa e corajosa de Winters.

Mas a maior luta pela sobrevivência deu-se quando a Easy Company defendeu posições na sangrenta batalha de Bulge (a maior ofensiva alemã na Bélgica). Em Bastogne, a 101ª divisão americana de pára-quedistas que chegava em caminhões de Reims (leste da França), conseguiu conter a ofensiva alemã, mas a cidade estava completamente cercada. O general George Smith Patton, no comando do Terceiro Exército, lançou então uma contra-ofensiva em meio a uma forte nevasca. Em Bastogne, o general Tony McAuliffe resiste e não aceita a rendição. 




A série aborda de uma maneira colossal e com um realismo atordoante a luta diária dos soldados durante a batalha em Bastogne: Na parte histórica, a reconstituição de época impecável ajuda a reconstruir cada batalha, sendo a de Bastogne a mais marcante. Debaixo de muita neve, sem roupas adequadas, alimentação ou munição, a Easy defende uma posição estratégica em uma floresta belga, naquela que foi classificada como a maior batalha da história do exército americano. Somado também a falta de cirurgiões e um hospital para escoar os feridos, os diretores David Frankel (do filme Marley e Eu) e David Leland (da série The Borgias) desenham um panorama complexo e visceral onde a amizade e lealdade mostram-se essenciais na esperança de sobrevivência. 

Narrado sob a ótica de dois médicos da equipe, esse capítulo explora os horrores e a coragem de alguns soldados na defesa da linha; há um cuidado em meio a essa complexidade de analisar também as relações interpessoais e os abalos advindos da morte de alguns soldados e o impacto mostra-se muitas vezes, brutal.  Após Bastogne, a companhia desloca-se até a área de Foy, na Béglica. Esse capítulo é narrado cuidadosamente pelo primeiro sargento Carwood Lipton, que resume os sentimentos da companhia durante essa batalha: “Fear is poison in combat. Something we all felt but didn’t show. You can’t. It’s destructive and it’s contagious.”

Depois da pior batalha em Bastogne e Foy, finalmente a Easy invadiu a Alemanha, através da cidade de Hagenau, um merecido descanso em um cartão postal maravilhoso sob os Alpes; durante o avanço ao território alemão a Easy encontra um campo de concentração, perto de Landsberg. É uma visão tão cruel, terrível e desumana que o soldado Perconte (“Perc” para os íntimos) não consegue definir o que é ou o que significa tal prisão. Há imagens fortes e chocantes, tal qual Liebgott, um soldado fluente em alemão, descobre que todos nos campos têm algo em comum – inclusive com ele mesmo – são judeus.

Por fim, a Easy rende o quartel-general de Adolf Hitler, o ninho da águia, em Berchtesgaden, e observa uma possibilidade de ser transferida para Operações no Pacifico, o que não ocorre. Por fim, a guerra termina e os sobreviventes voltam para casa. A impecável série finaliza com um pequeno sermão de um coronel Alemão as suas tropas: "Men, it's been a long war, it's been a tough war. You've fought bravely, proudly for your country. You're a special group. You've found in one another a bond, that exists only in combat, among brothers. You've shared foxholes, held each other in dire moments. You've seen death and suffered together. I'm proud to have served with each and every one of you. You all deserve long and happy lives in peace".

Assim, finda-se a longa e árdua missão da Easy Company. Depois de dez horas na companhia desses caras, é difícil se despedir deles. Aí vêm os extras do DVD pra preencher esse vazio, mostrando os tiozinhos recontando cada etapa da jornada que você acabou de ver na série, com cenas reais das batalhas, filmadas na época. O documentário "We Stand Alone Together: The Men of Easy Company" é tão bom quanto a própria série. E os diários em vídeo do ator Ron Livingston, mostrando os dez dias de treinamento árduo do elenco sob a direção do sensacional Cap. Dale Dye (consultor de todo filme de guerra que se preze) são impagáveis.

Indo além do valor cinematográfico e histórico, "Band of Brothers" ainda é capaz de mudar a sua vida com seu valor moral. Se o papel dos artistas é relembrar os horrores da II Guerra para que o Holocausto nunca mais aconteça, a série é uma lição de vida que ainda faz justiça aos heróis de verdade: Winters, Lipton, Nixon, Malarkey, Bull, Buck, Perconte, Liebgott, Guarnere, Penkala, Toye, Webster, Speirs...







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