"Declaramos
aberto o 65ª Festival de Cannes", declarou Anderson, acompanhado dos
atores Edward Norton, Bruce Willis, Bill Murray, Tilda Swinton e Jason
Schwartzman, além das crianças Kara Hayward e Jared Gilman, atores de
"Moonrise Kingdom", um filme lúdico e melancólico que estreou no
festival. A franco-argentina Berenice Bejo tinha dado antes as boas-vindas aos
3.000 convidados para a cerimônia de abertura do maior Festival de cinema do
mundo, que reunirá durante 12 dias a realeza de Hollywood e gigantes e jovens
talentos do cinema.
Vestida de vermelho, Bejo, designada mestre de cerimônias do
Festival de Cannes - que no ano passado a recebeu como a desconhecida
intérprete do filme mudo em preto e branco "O Artista", que começou
ali uma carreira de triunfos mundiais - apresentou os membros do júri,
presidido pelo cineasta italiano Nanni Moretti.Moretti, que foi recebido com
aplausos de pé, destacou a atitude da França, que soube manter um cinema
nacional quando outros países desprestigiaram as produções locais, entre eles a
Itália, seu próprio país."Obrigado a este país que, diferentemente de
outros, continua sempre reservando um lugar ao cinema", disse o presidente
do júri, que conquistou a Palma de Ouro em Cannes em 2001 por "O quarto do
filho"."É para mim uma grande honra, um grande privilégio, uma grande
responsabilidade, ser presidente do júri do festival de cinema mais importante
do mundo", acrescentou. (Agência
Estado).
16
de Maio
Moonrise
Kingdom
É raro,
nos dias atuais, um diretor ter um perfil claramente definido em seus filmes,
ao ponto do espectador ser capaz de identificar de imediato sua assinatura. Woody Allen é um deles, mas vem de uma geração que
começou a rodar seus primeiros longas ainda na década de 60. Entre os
contemporâneos, Wes Anderson é um dos poucos casos existentes. Adepto de um
estilo de comédia irônico, que aposta no desencontro de sentimentos em famílias
desconexas, Anderson sempre impõe seu estilo em qualquer trabalho em que se
envolva, mesmo quando é a adaptação de um simples livro infantil, como é o caso
de O Fantástico Sr. Raposo.
Com Moonrise Kingdom não
é diferente. Trata-se, mais uma vez, de um típico filme do diretor. Moonrise
Kingdom’ é encantador, ocasionalmente comovente e por vezes perturbador, mas
sempre atraente, como um filme de Wes Anderson deve ser. O realizador faz um
esforço notório para nos mostrar que este é um filme seu, que ao início pode
parecer demasiado espalhafatoso e óbvio, onde o estilo se sobrepõe ao contéudo.
Mas uma coisa é certa, este é um filme nostálgico e apaixonado, sobre uma época
onde não existiam celulares ou jogos de vídeo. É impulsivo e divertido, de uma
maneira que só Wes Anderson consegue, mas não se consegue destacar das
restantes obras da sua filmografia. Apesar de ser divertido (uma palavra que me
surge sempre no pensamento) não me surpreendeu assim tanto.
Contado
em apenas 90 minutos, ‘Moonrise Kingdom’ não é nenhum épico, mas mais uma
história de amor contida. Dado o número de personagens envolvido, é incrível
como Anderson nos consegue fazer sentir como se os conhecêssemos antes, apesar
de por vezes eles surgirem por apenas alguns minutos. [...] ’Moonrise
Kingdom’ pode agora ser considerado como o terceiro membro de experiências
contidas e pessoais do realizador, juntamente com ‘The Life Aquatic with Steve
Zissou’ e ‘Fantastic Mr. Fox’. (Agradecimentos a Rope of Silicon e Awards Daily,
pela resenha).
‘Moonrise
Kingdom’, como todos os filmes de Anderson, é muito bonito e divertido nesta
abordagem da dor e da tristeza. O filme brilha, mas brilha no escuro, como uma
luz suave e amena, mantendo o frio e a noite do mundo afastados, tornando este
filme de Wes Anderson em algo muito especial.
17 de Maio
‘DE
ROUILLE ET D’OS’
Começa
no Norte. Ali encontra-se com Sam, 5 anos, nos braços. É filho dele, mal o
conhece. Sem domicílio, sem dinheiro e sem amigos, Ali encontra
refúgio em casa da irmã em Antibes. Ali, fica logo tudo melhor, ela aloja-os na
garagem do seu pavilhão, trata do pequeno e está bom tempo. Após uma luta numa
discoteca, o seu destino cruza o de Stéphanie. Ela leva-o para casa e deixa-lhe
o número de telefone. Ele é pobre; ela é bonita e muito segura. É uma princesa.
Tudo os opõe. Stéphanie é treinadora de orcas no Marineland. Será necessário
que o espetáculo se transforme num drama para que um telefonema noturno os
volte a reunir. Quando Ali a encontra, a princesa está numa cadeira de rodas:
perdeu as pernas e muitas ilusões. Ele vai simplesmente ajudá-la, sem
compaixão, sem piedade. Ela vai voltar a viver.
É um
magistral trabalho onde o realizador consegue transmitir o seu imenso talento
através de duas esferas com alquimias muito complexas, tudo isto suportado por
dois excelentes atores, que encontram a luz no coração das trevas. O que
fazemos para sobreviver? Quem amamos? Com quem lutamos? Quais são as forças
visiveis ou invisíveis que nos empurram em direções inesperadas? Estas são as
questões que Jacques Audiard aborda em ‘De Rouille et D’os’, uma bela e
comovente história de duas vidas fraturadas que de algum modo se completam,
mesmo que seja de formas não convencionais.
‘De
Rouille et D’os’ flui de uma forma interessante, com intensidade e drama.
Apesar de parecer algo longo, isso não quer dizer que seja menos espantoso por
isso. Não digo que chegue ao patamar de ‘Un Prophete’, mas consegue ficar bem
perto, demonstrando a mesma paixão. Tanto Schoenaerts como Cotillard têm
interpretações espantosas.
MYSTERY’
Lu Jie
está longe de imaginar que o marido Yongzhao tem uma vida dupla, até ao dia em
que o vê entrar num hotel com uma mulher nova. A vida de Lu Jie entra então em
colapso, e isto é só o início… A mulher morre atropelada por um carro pouco
tempo depois. O polícia encarregado do caso recusa-se a acreditar num acidente…
Lou Ye
regressa num filme que é tudo menos um compromisso artístico ou temático. Este
é um retrato sombrio sobre corrupção, sexualidade promíscua e a imoralidade da
sociedade contemporânea chinesa. Apesar da história central se inclinar
mais para o melodrama, a mistura confiante entre o realismo e a poesia consegue
manter ‘Mystery’ no bom caminho. Mystery’ explora noções de fidelidade, família
e identidade, bem como a atração sexual. Um retrato da sociedade chinesa, que é
corrupta e interesseira, mas mesmo assim com ilustres exceções. Os jovens
ricos, que são literalmente capazes
de fugir a um assassinato, são só uma parte desse sistema que, com o evoluir da riqueza da nação,
parece ter perdido o rumo moral. (Agradecimento ao pessoal do Cine-Vue, pela
crítica!)
18 de Maio
‘REALITY’
Luciano é um pescador napolitano, que retira
pequenas escamas com a sua mulher Maria, como suplemente ao seu modesto
ordenado. Luciano é uma pessoa agradável e divertida, e nunca perde a oportunidade de atuar
para os seus clientes e familiares. Um dia a sua família convence-o a concorrer
ao Big Brother. Na perseguição do seu sonho, a sua percepção da realidade começa
a mudar.
Em ‘Reality’, de Matteo Garrone, prevalecem decisões inteligentes, e muitos
pequenos momentos provam ser brilhantes após alguma reflexão. A justaposição de
Garrone brilha, sendo uma das melhores qualidades deste filme. Existem imensos
momentos de surpresa, que decerto irão impressionar qualquer estudante de
cinema. Mas no fim, é este mundo rico e fascinante que Garrone criou através
destas personagens que fazem com que ‘Reality’ seja uma experiência única.
‘BEASTS OF THE SOUTHERN WILD’
Hushpuppy,
de 6 anos, vive no pântano com o pai. De repente, a natureza altera-se, a
temperatura sobe, os glaciares derretem, libertando uma multidão de auroques
(espécie de boi selvagem). Com a subida das águas, a irrupção dos auroques e a
saúde do pai debilitada, Hushpuppy decide ir à procura da mãe desaparecida.
Numa
terra a sul de Louisiana, Hushpuppy de 6 anos vive de acordo com um simples
código: “Quando somos pequenos, temos que arranjar o que podemos.” É um mantra
que se aplica em ‘Beasts of the Southern Wild’ de Benh Zeitlin, uma
estonteante estréia que vê a sua heroína principal a lutar contra ondas
gigantes e criaturas fantásticas numa batalha mítica contra a modernidade. Este
filme de estréia de Zeitlin consegue ser desafiante, inovador e
intensamente comovente, sem nunca ser piegas. [...] ‘Beasts of the Southern
Wild’ é facilmente um dos filmes americanos mais emocionantes dos últimos anos.
(Agradecimentos, novamente ao pessoal da Cine-Vue).
19 de Maio
No
dia 19 de Maio, quarto dia do Festival de Cannes, foi exibido o novo filme de John Hillcoat, que anteriormente nos trouxe ‘A Estrada’ e ‘Escolha Mortal’, um épico de gangsters sobre a altura da
proibição. Existia também uma grande expectativa para o primeiro filme
de Brandon
Cronenberg, ‘Antiviral’, que marca a estreia do filho de David Cronenberg nas
longas-metragens.
‘LAWLESS’
1931.
No coração da América em plena proibição, no condado de Franklin na Virgínia,
estado célebre pela produção de álcool de contrabando, os três irmãos Bondurant
são traficantes notórios: Jack, o mais novo, ambicioso e impulsivo, quer
transformar o pequeno negócio familiar em
tráfico de envergadura. Sonha com roupas bonitas, com armas e espera
impressionar a sublime Bertha… Howard, o do meio, é o brigão da família. Leal,
o seu bom senso dissolve-se regularmente no álcool que não consegue recusar…
Forrest, o mais velho, é o chefe e continua determinado a proteger a família
das novas regras impostas por um novo mundo econômico. Quando Maggie chega a
Chicago, fugitiva, ele toma-a igualmente sob a sua proteção. Sozinhos contra
uma polícia corrupta, uma justiça arbitrária e gangsters rivais, os três irmãos
escrevem a respectiva lenda: uma luta para permanecerem no seu próprio caminho,
durante a primeira grande corrida ao ouro do crime.
Existem
alguns confrontos, alguns momentos incríveis de violência, muito sangue como todos
esperavam, linguagem rude, e mais. O realizador John Hillcoat filma sempre de
forma bela, com uma cinematografia subtil, e deixa as personagens tomarem as
rédeas desta história de época. A história em si é um pouco mais do mesmo, não
gerando muitas surpresas, mas é um excelente filme de entretenimento sobre
gangsters na época da proibição.
'ANTIVIRAL'
Syd
March é um funcionário de uma clínica que se especializa na venda e injeção de
vírus cultivados sobre a pele de celebridades a fãs obcecados. Uma comunhão
biológica, por um determinado preço. Syd vende também ilegalmente amostras
destes vírus a grupos de criminosos roubando-os à clínica para a qual trabalha
depois de os ter introduzido no seu próprio corpo. Quando fica infectado pelo
vírus que provocou a morte da super celebridade Hannah Geist, Syd torna-se num
alvo para os colecionadores e os fãs em delírio. Tem então de elucidar o
mistério à volta desta morte antes de ter o mesmo fim trágico.
Como
sátira da cultura moderna, ‘Antiviral’ de Brandon Cronenberg é um sucesso, com
uma realização precisa e convicta. De qualquer forma, por estas razões, é
também frio, estéril e completamente vazio de humanidade e sentimento. É
possível que estas características sejam consideradas como pontos a favor, visto
que fazem parte das intenções de Cronenberg, mas isso não significa que todas
as pessoas vão gostar deste filme. As
interpretações e os diálogos reforçam esta frieza, com personagens que só se
libertam dos murmúrios monossilábicos quando estão em extremo sofrimento
ou quando pretendem fazer algum comentário sobre a sociedade.
As idéias
são imaginativas e por vezes inteligentes, mas nunca extraordinárias, como os
melhores trabalhos no gênero. Uma estréia forte, onde sentimos que o realizador
conseguiu obter exatamente aquilo que procurava. Apesar de demorar um pouco a
desenrolar, e apesar de ter diversas falhas que muitos primeiros filmes têm,
este primeiro filme de Brandon revela-nos uma tremenda promessa. A segunda
parte é onde ‘Antiviral’ realmente mostra os seus dentes, com uma narrativa
única que chega a locais fascinantes e sombrios.
No próximo post, mais análises das amostras
do festival de Cannes 2012.
Até lá!
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