Band
of Brothers, conta a história da Companhia Easy, 506º Regimento da 101ª
Divisão de pára-quedistas do exército norte-americano. A história começa
em 1942, quando o exército norte-americano decide recrutar voluntários
para uma arma que poderia decidir os rumos da guerra: uma divisão de soldados
capazes de saltar atrás das linhas inimigas e combater a partir do interior da
Europa. Influenciados por um artigo que havia sido capa da revista Time,
durante quinze meses os soldados da Companhia Easy foram submetidos a um dos
mais rigorosos treinamentos da história militar norte-americana.
São
treze horas e vinte minutos (!) de vídeo, então o resumo abaixo é apenas a
síntese da essência da série que é, dentro do tema, a melhor já elaborada até
hoje. Vou ser bem sucinto e tentarei não entregar muitos spoilers. Cada
episódio trata de focar em um determinado membro da Easy, o que significa que,
ao final da série, você está familiarizado com todos eles e quer rever tudo
desde o início, para prestar mais atenção à trajetória de cada um daqueles
heróis. Desnecessário dizer que, com essa intimidade, cada baixa é sentida como
se um membro da sua família estivesse partindo. Desnecessário também dizer que,
a partir do terceiro ou quarto episódio, quando a maioria já é seu amigo
íntimo, é difícil segurar as lágrimas com cada atitude de cada personagem.
Não bastasse essa proximidade causada por um
casting perfeito (cheio de atores semidesconhecidos) e um roteiro sempre
primoroso, cada episódio traz no prólogo depoimentos dos soldados sobreviventes
nos dias atuais, senhores de idade cheios de cicatrizes e sabedoria. Eles não
se apresentam: faz parte da graça da série tentar adivinhar quem é quem. Só no
epílogo do último episódio é que eles se revelam, e aí não tem como não chorar.
Tudo
começa em Currahee; são apresentados os principais personagens, mas o foco é
definitivamente a relação da companhia com seu egocêntrico e arrogante capitão,
Hebert Sobel. Após um treinamento cruel, intenso e extenuante, e sob a
supervisão de um novo comandante, Thomas Meehan, a Easy Company finalmente
embarca para a Inglaterra, se preparando então para seu lançamento sobre a
Europa, em setembro de 1943. No
dia D, a companhia desembarca na Normandia, inclusive no ataque de Brecourt
Manour, sob a atenta ótica do Tenente Winters.
Se você gostou, por exemplo, da
cena inicial do filme o Resgate do Soldado Ryan, perceberá a magnitude,
precisão e perfeição da filmagem da entrada do pelotão no continente europeu. O
modo como a câmera se comporta e o realismo impecável da atuação dos
personagens demonstra de maneira perfeita o fato e o ato histórico e de bravura
a que foram submetidos na vida real. Mas, como enfrentar o medo da morte? Como
Ronald Speirs diz “A única esperança é admitir que você já está morto.”
Logo
após o dia D, há a invasão no interior da França, em Carentan. O objetivo dos
pára-quedistas era liberar corredores de ligação para impedir um possível
contra-ataque alemão às costas. O episódio é relatado sob a perspectiva do
soldado Albert Blithe e seus medos durante a guerra – inclusive o de matar.
Interessante frisarmos e notarmos que os próximos cinco capítulos são narrados
sob o ponto de vista de cinco soldados e, entre eles, Dick Winters. Os
diretores e também os roteiristas conseguiram com muito cuidado transformar o
que poderia ser enfadonho, em uma verdadeira jornada heróica sob óticas
totalmente autênticas e pessoais, causando um impacto no telespectador ao
demonstrar o desenvolvimento da amizade única entre eles, bem como mesclar depoimentos
dos veteranos, que são os trechos que de fato nos conectam com a realidade dos
eventos expostos ali, muitas vezes acima das atuações.
E
de fato o que me chamou a atenção foi a impressionante ligação que esses homens
tiveram uns com os outros, e a magistral, perspicaz e perfeita liderança
demonstrada a todo instante por Dick Winters. Cada ação é destrinchada e mostra a genialidade de Richard
Winters, que acaba se tornando o protagonista involuntariamente, da mesma forma
que vai ganhando patentes no decorrer da guerra. Winters é o maior líder já
retratado em película e ponto final. Bastam uns dois episódios pra você, que
nunca usou farda na vida, acreditar que, se Winters mandasse, pularia de um
precipício sem problemas. Depois de voltar a Inglaterra, a Easy,
que teve um dos maiores números de baixas de todas as companhias aliadas,
combateu na malfadada operação tática Market Garden. A Easy ainda foi
lançada aos Países Baixos, onde após uma operação quase perfeita, acaba por ter
um novo comandante. No entanto, os soldados se mantém unidos e são sempre
guiados sob a batuta cuidadosa e corajosa de Winters.
Mas
a maior luta pela sobrevivência deu-se quando a Easy Company defendeu posições
na sangrenta batalha de Bulge (a maior ofensiva alemã na Bélgica). Em
Bastogne, a 101ª divisão americana de pára-quedistas que chegava em caminhões
de Reims (leste da França), conseguiu conter a ofensiva alemã, mas a cidade
estava completamente cercada. O general George Smith Patton, no comando do
Terceiro Exército, lançou então uma contra-ofensiva em meio a uma forte
nevasca. Em Bastogne, o general Tony McAuliffe resiste e não aceita a rendição.
A
série aborda de uma maneira colossal e com um realismo atordoante a luta diária
dos soldados durante a batalha em Bastogne: Na parte histórica, a reconstituição de época impecável ajuda
a reconstruir cada batalha, sendo a de Bastogne a mais marcante. Debaixo de
muita neve, sem roupas adequadas, alimentação ou munição, a Easy defende uma
posição estratégica em uma floresta belga, naquela que foi classificada como a
maior batalha da história do exército americano. Somado também a
falta de cirurgiões e um hospital para escoar os feridos, os diretores David
Frankel (do filme Marley e Eu) e David Leland (da série The Borgias) desenham
um panorama complexo e visceral onde a amizade e lealdade mostram-se essenciais
na esperança de sobrevivência.
Narrado sob a ótica de dois médicos da equipe,
esse capítulo explora os horrores e a coragem de alguns soldados na defesa da
linha; há um cuidado em meio a essa complexidade de analisar também as relações
interpessoais e os abalos advindos da morte de alguns soldados e o impacto
mostra-se muitas vezes, brutal. Após Bastogne,
a companhia desloca-se até a área de Foy, na Béglica. Esse capítulo é narrado
cuidadosamente pelo primeiro sargento Carwood Lipton, que resume os sentimentos
da companhia durante essa batalha: “Fear is poison in combat. Something we all
felt but didn’t show. You can’t. It’s destructive and it’s contagious.”
Depois
da pior batalha em Bastogne e Foy, finalmente a Easy invadiu a Alemanha,
através da cidade de Hagenau, um merecido descanso em um cartão postal
maravilhoso sob os Alpes; durante o avanço ao território alemão a Easy encontra
um campo de concentração, perto de Landsberg. É uma visão tão cruel, terrível e
desumana que o soldado Perconte (“Perc” para os íntimos) não consegue definir o
que é ou o que significa tal prisão. Há imagens fortes e chocantes, tal qual
Liebgott, um soldado fluente em alemão, descobre que todos nos campos têm algo
em comum – inclusive com ele mesmo – são judeus.
Por
fim, a Easy rende o quartel-general de Adolf Hitler, o ninho da águia, em
Berchtesgaden, e observa uma possibilidade de ser transferida para Operações no
Pacifico, o que não ocorre. Por fim, a guerra termina e os sobreviventes voltam
para casa. A impecável série finaliza com um pequeno sermão de um coronel
Alemão as suas tropas: "Men, it's been a long war, it's been a tough war. You've fought bravely, proudly for your country.
You're a special group. You've found in one another a bond, that exists only in
combat, among brothers. You've shared foxholes, held each other in dire moments.
You've seen death and suffered together. I'm proud to have served with each and
every one of you. You all deserve long and happy lives in
peace".
Assim,
finda-se a longa e árdua missão da Easy Company. Depois de dez horas na companhia desses caras, é difícil se
despedir deles. Aí vêm os extras do DVD pra preencher esse vazio, mostrando os
tiozinhos recontando cada etapa da jornada que você acabou de ver na série, com
cenas reais das batalhas, filmadas na época. O documentário "We Stand
Alone Together: The Men of Easy Company" é tão bom quanto a própria série.
E os diários em vídeo do ator Ron Livingston, mostrando os dez dias de
treinamento árduo do elenco sob a direção do sensacional Cap. Dale Dye
(consultor de todo filme de guerra que se preze) são impagáveis.
Indo além do valor cinematográfico e histórico,
"Band of Brothers" ainda é capaz de mudar a sua vida com seu valor
moral. Se o papel dos artistas é relembrar os horrores da II Guerra para que o
Holocausto nunca mais aconteça, a série é uma lição de vida que ainda faz
justiça aos heróis de verdade: Winters, Lipton, Nixon, Malarkey, Bull, Buck,
Perconte, Liebgott, Guarnere, Penkala, Toye, Webster, Speirs...
Excelente, André!! Com certeza minha série favorita.
ResponderExcluirValeu brother, com certeza é a minha também!
ResponderExcluirEssa foi de longe a melhor série que já assisti Maur.
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